Matéria de Luiz Carlos Merten - O ESTADO
DE S. PAULO
Entrevistas com os dois galãs
do filme, Armie Hammer e Henry Cavill
RIO - Guy Ritchie, o ex de
Madonna, tornou-se um bem-sucedido diretor de ação, com filmes como Jogos,
Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch – Porcos e Diamantes e a franquia
Sherlock Holmes. Ele tenta agora iniciar nova franquia, mas os resultados
iniciais de O Agente da U.N.C.L.E. no mercado norte-americano não foram muito
animadores.
O filme fez modestos US$ 14
milhões no primeiro fim de semana, quando o estúdio, a Warner, esperava dez
vezes mais. Um fracasso, portanto? De passagem pelo Brasil, os dois astros do
filme, Henry Cavill, o Superman, e Armie Hammer disseram esperar pela reação no
mercado externo. E eles também acham que o filme terá melhor aceitação nas
demais janelas – TV paga, home entertainment.
Henry Cavill e Armie Hammer no
Copacabana Palace em Copacabana para promover U.N.C.L.E.
O mercado é um problema que
aflige produtores e distribuidores. E o público? Você não precisa ser nenhum
nostálgico da antiga série de TV com Robert Vaughn e David McCallum para correr
às salas que estarão lançando O Agente da U.N.C.L.E. na quinta, dia 3. Mas vale
reportar-se à época. Os anos 1960 assistiram ao acirramento da Guerra Fria
entre as então superpotências, EUA e URSS, a ex-União Soviética. Representavam
forças econômicas e ideológicas em choque – capitalismo vs. comunismo. Em nome
da manutenção do chamado ‘mundo livre’, o establishment militar armou-se e
proliferaram os espiões.
Um deles, em especial, fez
história na ficção – James Bond, o 007. Criado pelo escritor Ian Fleming,
estourou na tela na interpretação de Sean Connery e, depois, teve vários outros
intérpretes, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan, até
chegar ao atual titular do papel, Daniel Craig. O mundo mudou. Caiu a Cortina
de Ferro, hoje a liberdade é de consumir, e mesmo assim o consumo é induzido
nas economias de mercado. Nesse admirável mundo novo, o espião, militar ou
ideológico, deveria ter se tornado obsoleto, mas, então, o que faz com que
Daniel Craig esteja batendo todos os recordes da série, desde a sua origem? Por
que o espião com licença para matar, bom de luta e de cama, tornou-se mais
admirado (necessário?) que nunca?
Por que os filmes são melhores?
Interessante questão que pode ser reformulada em função da dupla Napoleon
Solo/Illya Kuriakin, de O Agente da U.N.C.L.E. E, por que, já que são dois, a
série, desde o início, não se chamou Os Agentes, no plural? Formatada, entre
outros, por Ian Fleming, a U.N.C.L.E. antecipou a détente. Um agente
norte-americano amoral, que teria sido preso como ladrão, se não topasse virar
espião. Um russo com um passado, e com a forma física de uma super-homem. Dois
sujeitos, aparentemente, sem nada em comum, mas que vão virar aliados. Que vão
salvar a vida um do outro. Na trama, precisam impedir que cientista russo
entregue o segredo da bomba para organização criminosa. Nada mais anos 1960.
Em filmes como Doutor Fantástico
(Stanley Kubrick), Limite de Segurança (Sidney Lumet) e Sete Dias de Maio (John
Frankenheimer), para citar só alguns, o risco do holocausto nuclear e o
fortalecimento dos militares no mundo à beira do confronto alimentavam perigos
reais e ficcionais. E, para cada crise dos mísseis de Cuba, sempre havia os
vilões de 007, que se apossavam de segredos militares e os disponibilizavam no
mercado, à espera da melhor oferta. Aqueles vilões estavam adiante de sua
época. Todo poder ao mercado, como hoje. Mas a época, os anos que mudaram tudo,
do sexo à moda, é decisiva em O Agente da U.N.C.L.E., o filme. Solo e Kuriakin
enfrentam uma organização criminosa na Itália, há uma linda mocinha, Alicia Vykander
(e uma revelação sobre a identidade dela).
Como sempre, Ritchie é mais
sensível ao erotismo masculino que ao feminino – mas, Telma, ele não é gay. O
diretor cria um impecável visual de época, embalado numa trilha maravilhosa,
com direito a Tom Zé (a melhor do ano?). Você vai ver, o filme enche os olhos e
até emociona em cenas como a do salvamento submarino (mas a da ópera em Missão
Impossível – Nação Secreta é melhor). Tudo é legal, os atores e atrizes são
ótimos, mas dá para entender a acolhida um pouco fria do público. Falta alguma
coisa. Mais ação, mais humor? O novo Guy Ritchie não chega a decepcionar, mas
não se compara aos grandes filmes de ação do ano, Velozes e Furiosos 7,
Jurassic World ou Nação Secreta.
Trailler https://youtu.be/himZTt-mhFA
ENTREVISTA COM ARMIE HAMMER
Armie Hammer, ex-Cavaleiro
Solitário, trouxe a família ao Brasil e adorou as belezas naturais do Rio de
Janeiro.
E se disse que o diretor Guy
Ritchie é mais sensível ao erotismo de vocês (Henry Cavill e dele) do que o das
mulheres?
Concordo, mas isso é uma coisa de
olhar. A gente não tem consciência, enquanto está fazendo. Guy não é gay, você
sabe, mas frequentou muita academia. Criou essa espécie de intimidade com a
força masculina. Não é atração sexual de verdade, é outra coisa.
Quem é Illya? E, olhe, eu vi a
série antiga...
Também vi. Faço um personagem bem
diferente de David (McCallum). Há uma curva muito interessante na criação do
meu Illya. Seus problemas familiares, o desenvolvimento físico e mental que foi
sua arma para crescer no comunismo. É um bem sólido.
Mas é tímido com as mulheres,
Alícia (Vykander) tem de chamá-lo para a ação, concorda?
Na minha construção, ele não é virgem, mas se
trava porque é a primeira vez que se envolve durante uma missão.
Como foi para um herdeiro
bilionário (você) se afirmar como ator?
Não foi fácil convencer meus
pais, mas agora que sou pai eu os entendo. Provavelmente, direi a mesma coisa a
meus filhos. Primeiro eles têm de estudar, se graduar. Depois, terão a vida que
quiserem. O dever dos pais é amar e preparar os filhos, como fizeram comigo e
eu pretendo fazer com os meus.
ENTREVISTA COM HENRY CAVILL
No Rio, Henry Cavill conversou
com o repórter. Falou de O Agente das U.N.C.L.E, claro, mas também de Batman
vs. Superman.
Você já conhecia O Agente da
U.N.C.L.E.?
Não quis ver, porque sou muito
influenciável. Se gosto de alguma coisa, fico me torturando. Como fazer
diferente? Como fazer melhor? Preferi me deixar levar pelo roteiro e pela
direção de Guy (Ritchie).
Napoleon não provoca muita
empatia. É mais frio que cool, concorda? Quem é ele?
Uma das coisas boas do papel para
um ator é que Solo cria uma distância. Não sabemos realmente quem é. Podemos
deduzir, mas nada é muito concreto. Criei-o cool, talvez um pouco frio, mas
nesse mundo da espionagem não poderia ser diferente. E ele realmente se
preocupa com Illya (Kuryakin)
Como foi fazer a cena do
resgate submarino?
Molhada. Filmamos durante dois
dias, num tanque enorme. Foi a cena que mais me exigiu resistência, mas ficou
boa. É uma das que gosto no filme.
E como foi seu retorno ao
Superman?
Superman ficou ainda mais
complexo e sombrio. Cede ao mal dentro dele, mas não perde a ética e, por isso,
nasce a Liga da Justiça. Gostei de fazer porque não é só uma coisa física. Tem
intensidade. Zach (o diretor Snyder) é muito bom. Colocar os dois maiores
heróis da DC em campos opostos é uma sacada de mestre.
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